E N T R E V I S T A ...................................................................2/3

HUCIUS: ...atualmente de que se alimenta Voltz.
AL: se alimenta das nossas referências do dia-a-dia, do mercado central, a casa de uma pessoa....
CL: as viagens que a gente faz para descansar mas acaba vendo tudo e querendo pegar todas aquelas imagens.

HUCIUS: Falar de atitudes
AL e CL: Então as nossas referências são essas, ir para um lugar, filmar, ver, viajar, fotografar.... outras referências também, por exemplo, ir a todos os lugares, desde festa de 15 anos....... a gente não vive num gueto.... a gente tá aberto a tudo, a gente vai num forró (uma dança mais simples), ao mesmo tempo em que vai num lugar de música eletrônica. Então a gente vai em todos os lugares, vai num restaurante muito chique como vai num buteco copo sujo de beira de esquina. Ao mesmo tempo a gente tem convívio com pessoas ricas e pessoas pobres, não temos preconceitos, convivemos com homossexuais e sem ter preconceito de nada..... A gente tá aberto a tudo. Tudo para nós pode ser uma coisa interessante. A gente tenta sempre enxergar alguma coisa que seja interessante ou bonita em todos os lugares que a gente passa. Mesmo porque, quem mexe com design, está sempre fazendo linguagem para muitos ou para poucos, então você tem que saber como você vai fazer para muitos, até que ponto você pode ousar ou senão, sei lá, vou colocar isso para chocar esses muitos todos. Então você tem que ter referência do todo para até fazer a coisa pro todo ou pro segmento, então, isso é interessante. E o que que a gente segmenta são essas referências, fora livro, a gente compra muito livro.
CL: mais revista, na minha opinião a gente se alimenta mais de uma linguagem de revista. Por uma questão de gosto. Gosto de ver revista, ler a revista... Mas eu acho que o mais forte do nosso trabalho, que a gente tá conseguindo se firmar no nosso trabalho, é a gente colocar um pouquinho mais de personalidade no nosso trabalho. Quando a gente pega uma referência que a gente achou interessante, ela tem um significado para nós, e ao mesmo tempo aquela referência a gente sabe que tem um significado para muitas pessoas, isso a gente consegue ver o retorno disso. É como se a pessoa enxergasse também. Ela passou por ali e não deu valor.... eu fico achando que a gente pega os negócios e tenta dar vida para eles.
AL: É, até o que um cliente nosso falou, a gente traz sensibilidade para as coisas, muita gente acha o nosso trabalho sensível, então a pessoa vê e se emociona, ela sente alguma coisa.

HUCIUS: Qual é a situação do desenho gráfico no Brasil?
CL: Aqui , aonde a gente vive, existe uma demanda por uma necessidade básica do mercado. O mercado precisa..... o cara criou um produto e ele precisa mostrar ele de alguma forma: uma necessidade básica. Mas por exemplo, o design gráfico aqui em Minas Gerais - em São Paulo não - aqui em MG a gente não é valorizado, a gente não tem uma classe organizada, diferente de um fotógrafo,.... A gente tem assim, por exemplo, a gente é publicitário e resolveu ser designer gráfico. Num tem aqui em MG uma Associação de Design Grafico, não tem, não existe, então por exemplo, os preços que se praticam...
AL: cada um faz o seu.
CL: Não tem uma cultura, não tem..... a cultura da imagem, ela pode até existir mas assim, voltada pra área de cinema, mas para área de design gráfico não.

HUCIUS: Por parte dos próprios diseñadores?
CL: Isso

HUCIUS: y do publico
AL: Por parte do publico não, mais vontade nossa de querer fazer
CL: Sabe o que a gente sente quando a gente tá tendo contato com o cliente? Se a gente apresenta um trabalho que a pessoa adora e se impressiona com ele,.... porque que a gente acha isso? A gente acha que eles tiveram a oportunidade de ver uma outra coisa antes. Então, é aquilo que ela falou,: tem que fazer um trabalho sobre tecnologia, até hoje, a maioria das pessoas da sociedade, viu o globo, ou a elipse. Se a gente chega lá propondo um caracol para falar de tecnologia.... OOOHHHH..... Sabe, porque eles só viram até isso. Acredito que poucas pessoas tentaram propor alguma coisa diferente, por aquilo que a gente falou: o trabalho é corrido, as pessoas querem é fazer, num tem a dedicação ao trabalho, a elaboração de querer fazer um negócio......
AL: Tem algumas pessoas.....
CL: Tem pessoas, claro, não são todas..... Mas não existe essa cultura

HUCIUS: Falo também dos receptores.
CL: Tem! Hoje em dia tá existindo essa visão. A partir de pouco tempo para cá, num sei se por causa da internet, por causa dessas coisas... Mas a informação, a informação visual - por causa da MTV, ter entrado com uma linguagem, a MTV brasileira, ela entrou no Brasil propondo a união de vídeo com design gráfico - que são essas pessoas que a gente falou, Burritos do Brasil, essas nossas referências, foram os primeiros a fazer por aqui, eles que levaram. Então essa cultura foi muito difundida pela MTV. As pessoas começaram a enxergar de uma forma diferente, ver a imagem de uma forma diferente, misturando letra, tipologia, coisa do design gráfico na televisão. Isso começou a fazer as pessoas terem um outro olhar. Então, hoje em dia, tá começando aqui, a ter uma valorização disso, a ter uma preocupação com o trabalho....então os próprios clientes já querem um trabalho um pouco mais diferente, não querem só isso mais, eles querem uma coisa mais interessante.... mas isso é muito pouco tempo. A gente tá a dois anos no mercado e tá começando a sentir isso de um ano para cá.

HUCIUS: Mas em geral, no Brasil
CL: São Paulo é uma outra realidade. Se aqui a gente faz uma identidade visual, por exemplo, a gente chega para um cliente importante. Uma grande empresa de MG e uma das maiores do Brasil e da América Latina. Uma empresa de sapato. O cara chegou no nosso trabalho, primeiro ele viu a pasta, queria ir direto no preço. Depois ele viu o trabalho e falou assim: você acha que eu vou te pagar esse preço por esse rabisco que você. fez? É desse jeito. Então é assim, a gente chega aqui e põe uma logomarca, um preço de R$500,00. A pessoa acha um absurdo, um desenho! Um desenho de R$500,00? Muito caro! La em São Paulo, isso aqui, do mesmo jeito, deve valer R$5.000,00.

HUCIUS: Tanta diferença?
CL: Muita diferença. Absurda, absurda.
AL: Mas lá a vida é mais cara.

HUCIUS: Mas proporcionalmente.
CL: Então uma época a gente estava propondo um trabalho de R$1.500,00, - só para você ter uma noção - ligamos para um amigo nosso lá e perguntamos: quanto você cobraria pôr esse trabalho? Ah, uns R$15.000,00. É! E ele, a última vez que estivemos lá ele contou para gente que eles fizeram um trabalho para uma rede de televisão importante lá, eles fizeram um preço e o cara chegou e falou assim: ó, tá muito barato, pode aumentar seu preço. É outra realidade. Então aqui, não existe a coisa da Associação, cada um põe o seu preço, independente da elaboração do trabalho, ninguém (o próprio cliente, a própria sociedade) leva em conta se você elaborou e pensou por muito tempo o trabalho dela, ela acha que é um rabisco, que é um desenho, então se a pessoa chega com um rabisco ela acha que tem que pagar o mesmo tanto para aquela, ou para quem elaborou mais. Não tem essa cultura. Não tem uma associação. Em São Paulo agora tem. Recentemente, com a 4a bienal de design que teve lá, eles criaram um kit. Um kit de design gráfico, a gente comprou, que é um kit que te ensina a fazer um contrato de trabalho, que tenta estabelecer um padrão de preço para o design gráfico... por que a gente se baseia em preço, tem a tabela do sindicato dos publicitários. A gente tenta seguir de referência a tabela do sindicato de publicidade, mas são trabalhos completamente diferentes. A gente tentou no início do ano passado juntar com algumas pessoas, designers gráficos, e tentar criar uma tabela de preço, criar normas de trabalho, condições de trabalho, mas acabou que não deu certo. A gente não tinha tempo, as pessoas não estavam muito interessadas, tinha uns muito empenhados e outros nem aí, e muito trabalho e a gente deixou. Aí essa associação criou o kit, nesse kit vem uma tabela de preço básico, tudo mais, mas são preços que não se aplicam aqui. São preços que se aplicam em SP. Entendeu? Então se a gente põe um preço.... vou te dar um exemplo que aconteceu semana passada: um amigo nosso chegou para gente, trabalha numa rede de televisão, ligou para gente: ó, quanto custa fazer uma revista semanal, me passa um preço estimado, não precisa fechar o orçamento... Eu peguei o kit de São Paulo, falei assim: ó, no kit custa R$7.000,00 um projeto gráfico de revista. Ele chegou pro dono da... para o diretor da televisão, o cara brigou com ele, xingou a gente; falou: esse cara tá achando o que? eu quero ver o trabalho que ele tem, ele deve estar sem trabalhando, por esse preço ninguém trabalha...E esse é o preço mínimo em São Paulo.

HUCIUS: R$7.000,00, mínimo.
CL: Mínimo. De R$7.000,00 a R$15.000,00, um projeto gráfico de uma revista. Aqui, o cara briga com você se você falar isso para ele.
CL: Mas aqui é interessante por que tá começando a criar essa..... tem poucas pessoas, clientes, que valorizam.
AL: Mas tem. Tem gente que procura a gente e não procura agência.

HUCIUS: Mas tem muita diferença entre BH e SP na concepção que a gente tem de diseñadores gráficos
CL: Tem muita, absurda. Minas Gerais é uma realidade completamente.... é outra realidade! O empresário daqui é mais fechado, entendeu, as pessoas não valorizam, então assim, os novos empresários, empresários da nossa geração, vamos dizer, pessoas que estão começando agora, elas têm essa visão. Os empresários mais velhos não. Qualquer jeito.... não querem inovar..... Têm muito medo de uma proposta nova....